Pior do que ficar farto de discussões sobre ateísmo por causa de crentes fanáticos e irracionais é ficar farto de discussões sobre ateísmo por causa de ateus da mesma estirpe. O discurso tem-se vindo a radicalizar de há uns anos a esta parte, tendo-se há muito metido o humanismo e a razoabilidade no saco, trocando-os pelo cientismo fácil. Pretende-se pensar nas causas e nas consequências, nos prós e nos contras, nos comos e nos porquês dos deuses e das religiões sem qualquer sentido critico, de tubo de ensaio numa mão e dedo em riste na outra. Os ateus — ou os novos-ateus, melhor dizendo — consideram-se hoje superiores aos crentes, em inteligência, em moral, em cidadania… Ou seja, fazem o mesmo tipo de juízos de valor que as religiões tradicionais têm feito ao longo dos séculos umas das outras! Quaisquer utilidades que as religiões possam ter tido ou tenham na organização e coesão das sociedades são liminarmente ignoradas. Ser religioso é mau, ser crente é péssimo, os ateus é que são inteligentes e são superiores, ponto final.
É uma atitude desinteressante com a qual não quero ser sequer confundido. Doravante, passarei a designar-me apenas como humanista. Continuarei a ser ateu, obviamente, mas como o meu ateísmo parece já não caber na norma actual da definição, prefiro procurar outras definições mais abrangentes, mais inclusivas e menos discriminatórias.
P.S. — Este texto é uma declaração de princípios pessoais , não está, portanto, aberto a discussão.