No passado dia 31 de Maio, Ricardo Pinho escreveu um artigo no Diário Ateísta com o título “Ódio Ateísta” onde, sem rodeios, expôs a sua opinião sobre a qualidade dos conteúdos publicados naquele blog. Não irei aqui transcrever a opinião do Ricardo Pinho, pelo que sugiro a leitura do referido artigo para poderem entender convenientemente as linhas que se seguem.
O texto em causa recordou-me de imediato um já velho artigo que escrevi neste mesmo blog, há quase cinco anos, com o título “ Os Malefícios do Ateísmo Cor-de-Rosa”. Nele, repudiava o facilitismo do ateísmo fala-barato que cospe para o ar enquanto se põe em bico dos pés para se tentar fazer ouvir. Nele, advogava uma atitude ateísta positiva que privilegiasse os méritos do ateísmo e se despreocupasse com os deméritos das religiões, abandonando o esforço inconsequente da perseguição religiosa, como se todos os crentes devessem ser tratados como criminosos perigosos e gente de laia inferior. Passados cinco anos, vejo que tinha razão. Passados cinco anos em que foram constituídas duas associações ateístas em Portugal (PAMAP e AAP, cujo órgão de comunicação é o Diário Ateísta), tudo continua na mesma. Nada mudou no panorama religioso em Portugal e, caso tivesse mudado, não teria sido, certamente, graças à actividade de nenhuma dessas associações que se revelam inoperantes na promoção do ateísmo, limitando-se a policiar as actividades religiosas e procurando o escândalo beato, tal e qual paparazzis em fim de carreira.
Sobre o direito e a questão de oportunidade que tem sido posta em causa nos comentários ao artigo do Ricardo Pinho(1), bem como nos artigos de reacção ao mesmo(1,2,3), não deixa de ser curiosa a insinuação que a liberdade de expressão tem limites e que o corporativismo está acima de toda a verdade ou de qualquer outro valor. O que é um facto é que Ricardo Pinho acertou em cheio nas feridas e isso, normalmente, faz doer.
Os autores ateístas durões, musculados e irreverentes (e que se julgam eruditos), estão a conduzir a divulgação do ateísmo e dos valores humanistas para o abismo, afirmando-se, por um lado, defensores da Declaração Universal dos Direitos do Homem mas, por outro, adoptando um discurso teofóbico, ignorando o que vem previsto naquela declaração no que diz respeito à liberdade religiosa.
Fico, às vezes, com a sensação que os autores dessa ala dura do ateísmo nacional apenas pretendam alimentar um nicho de mercado onde se encaixaram e que lhes garante uma clientela fixa, embora reduzida. Fico, às vezes, com a sensação que os objectivos últimos terão pouco a ver com a promoção do ateísmo, mas antes com narcisismo intelectual de gosto muito duvidoso. E isto é verdade tanto em relação à maioria dos textos do Diário Ateísta como em relação à maioria dos artigos do actual Portal Ateu. Aliás, se repararmos bem na qualidade dos comentários que predominam actualmente nos artigos em questão, podemos facilmente chegar a uma conclusão sobre o tipo de comentadores que atraem. Sendo os artigos vazios de argumentos válidos e de ideias coerentes, é natural que atraiam comentadores pouco profundos.
Naturalmente, todos os ateus são livres de escreverem aquilo que muito bem entenderem; não pensem é que qualquer espécie de corporativismo ateu os deixará isentos de critica. É que o ateísmo não é, de facto, uma religião e, portanto, não há Papas infalíveis… apenas ateus arrogantes.