Month: Maio 2009
Uma tarde de Domingo com a Inês
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Racionalizar deus
Se é muito interessante do ponto de vista intelectual questionarmos sempre aquilo que sabemos, já me parece muito pouco razoável que coloquemos em dúvida tudo o que sabemos, independentemente da matéria em causa. Por outras palavras, o nosso grau de conhecimento (tanto individual como colectivo) não é uniforme, fazendo sentido que se apliquem diversos graus de dúvida consoante os assuntos em causa.
Sabemos, com um grau de certeza muito grande, que a Terra gira à volta do Sol; esse grau de certeza é tão grande que nem sequer perdemos tempo a verificar os dados necessários para chegarmos a essa conclusão. Entendemos, simplesmente, as explicações que nos são dadas por que se tratam de explicações racionais.
Temos uma certeza considerável sobre os processos biológicos que conduzem à evolução das espécies. Podemos não saber em pormenor todos os passos evolutivos de todas as espécies, devido a falhas nos registos fósseis, mas compreendemos o processo na sua generalidade por que podemos racionalmente extrapolar alguns casos bem documentados para os outros e toda a evolução é racionalmente sustentada.
Sabemos que devido aos movimentos da crosta terrestre e à agitação das placas tectónicas os continentes vão-se transformando eternamente enquanto a Terra for “viva†em termos geológicos. Racionalizamos os registos geológicos e chegamos a essa conclusão.
Todas estas coisas que sabemos foram temas de estudo no passado para pessoas que, muitas delas, dedicaram a sua vida à pesquisa, à exploração, à busca de provas e à refutação de outras… Esses exercícios de busca do conhecimento permitem-nos hoje falar desses temas como se tratassem de verdades que nem sequer questionamos no nosso dia a dia.
Porquê, então, não racionalizar deus? Porquê, então, tanta dificuldade em retirar deus da equação do conhecimento? Porquê jogar na lotaria de um prémio imaginário? Porque é que os crentes conseguem racionalizar tudo e não conseguem racionalizar deus? Racionalizar deus, note-se, é diferente de racionalizar as religiões. Essas, todos sabemos, são uma evolução da mitologia, em que se cria a noção do profano e do sagrado e em que se separam os deuses dos mortais humanos.
Mas deus, tome ele a forma e o nome que tomar, tem que ser racionalizado, como todo o conhecimento humano. A impossibilidade de o fazer, ao contrário do que tentam demonstrar os crentes, não demonstra a sua irracionabilidade. Demonstra, muito pelo contrário, a irracionalidade do seu conceito.
Que sentido faz, então, viver em função de algo que não se consegue sequer racionalizar? Que sentido faz, então, viver em função de algo que apenas as convicções mais dúbias e menos sustentáveis racionalmente conseguem suportar? Se as pessoas mentalmente saudáveis não regulam o seu conhecimento — e a sua vida! — em outras matérias em permissas tão frágeis, então, por que fazê-lo em relação à hipótese de deus? Não me parece coerente, não me parece lógico, não me parece racional. Enfim, crendices…
Afinal, ainda se faz boa música!
A escala de nós
Com o nosso lugar no universo colocado à devida escala, quem é que ainda se acha como sendo especial para um suposto criador? Vamos por-nos no nosso lugarzito, estás bem?
Morreu Vasco Granja
Foi uma das minhas referências de criança. Vasco Granja apresentava e promovia todo o tipo de desenhos animados, hoje filmes de animação, de toda a parte do mundo. Os seus programas ao fim de semana à tarde, deste 1974 até finais da década de 80 deixaram marcas em todos da minha geração.
Simultaneamente, Vasco Granja foi durante muitos anos o responsável pela secção de correspondência da Revista Tintin editada semanalmente pela Bertrand. Era ainda a alma do Clube Português de Banda Desenhada.
Morreu ontem. Deixa saudades. Como diria no final de muitos dos filmes que apresentou: Koniec!