O que o meu ateísmo não implica
Conforme prometi neste post, pretendo escrever uma série de artigos que me ajudem (e aos leitores deste blog) a organizar a apresentação dos motivos, preocupações e objectivos do meu ateísmo. Serão uma série de artigos onde abordarei diversos aspectos do que considero ser basilar no meu ateísmo.
Neste primeiro artigo, vou optar por deixar claro aquilo que o meu ateísmo não significa. Espero, assim, contribuir para uma leitura mais imparcial daqueles que visitam este blog.
Ser ateu para mim não significa ser anti-fé. Respeito a liberdade de cada um para acreditar naquilo que muito bem entender. Contudo, isso deverá acarretar duas responsabilidades: a de assumir os compromissos com essa mesma fé, por um lado, e a de viver essa fé na sua privacidade ou em local (templo) apropriado.
Não sou anti-clero; não encontro razões para acreditar que o exercer do sacerdócio traga consigo uma maior dose de criminalidade ou que existe um maior índice de padres criminosos do que padeiros, informáticos, ateus ou engenheiros civis criminosos. Hipocrisia não é um crime; será, quanto muito, uma questão de consciência.
O meu ateísmo não é politizável, ou seja, não sou ateu por ser deste ou daquele partido nem vice-versa.
Não sou particularmente anti-cristão; o meu ateísmo é absoluto e equidistante de todas as religiões, divindades, fadas, duendes ou unicórnios. Se, porventura, existir uma maior exposição do cristianismo nas páginas deste blog isso é facilmente explicável pela minha também muito maior exposição ao cristianismo, tanto cultural como socialmente, uma vez que nasci, cresci e vivo num país cuja religião maioritária é cristã.
O meu ateísmo não é recente, sempre fui ateu, nunca tendo sentido qualquer necessidade de procurar estímulo espiritual no sobrenatural. Música, um bom livro, observar as minhas filhas a dormirem ou olhar o céu à noite sempre foram suficientes para me encher de prazer, satisfazer quaisquer necessidades de contemplação, imaginar e concluir que o mundo é, afinal, tão belo. Respeito (embora me custe a compreender) que outros tenham outro tipo de necessidades espirituais.
Finalmente, o meu ateísmo não é estanque. Estou sempre disponível para uma boa argumentação sobre o tema. Não estou fechado sobre mim mesmo, nem sou dogmaticamente ateu. Muito pelo contrário, reconheço que filosoficamente é arriscado ser-se ateu; mesmo assim, considero que, na prática, faz muito mais sentido. Mas isso fica para a segunda parte. Nela abordarei as razões porque sou ateu e não agnóstico.
Parte 2 — As insuficiências do agnosticismo
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Brilhante… de uma só penada conseguistes irritar os ateus e encantar os almocreves…
… vê lá se te barbeias para a part 2…
Pingback: Reflectir o meu ateísmo - Parte 2 : Helder Sanches
Xiquinho,
A minha intenção não é nem irritar nem encantar ninguém. Aliás, nem entendo como é que um exercício de reflexão pessoal consegue provocar tais reacções. Mas vejo no teu comentário algo de positivo; acho que sabes que nunca fui pessoa de consensos.
“Não sou anti-clero; não encontro razões para acreditar que o exercer do sacerdócio traga consigo uma maior dose de criminalidade ou que existe um maior índice de padres criminosos do que padeiros, informáticos, ateus ou engenheiros civis criminosos”.
Conforme conversa tida por volta das 04h30, e tendo eu confirmado o que com os copos já achava então, diga-me lá, Sr. Helder: a parte da criminalidade ou dos “engenheireiros” criminosos foi propositada ou trata-se somente de uma mera exemplificação. Explica-te lá que não entendi…será da ressaca?
Eu até tinha mais para dizer, mas simplesmente não consigo olhar para o monitor, doem-me os olhos…
Desculpa lá, Manel. Já ontem não entendi onde querias chegar mas culpei a tua bebedeira; agora, continuo sem perceber! Sou obrigado a culpar a tua ressaca…
Mas, afinal, qual é a tua questão que eu ainda não percebi?
Vê se entendes agora para me poderes esclarecer.
Não és anti-clero, certo? E afirmas isso dizendo que não encontras razões para considerar um clérigo mais ou menos criminoso do que uma pessoa com uma qualquer outra “profissão”.
A minha pergunta é esta: a condição de criminoso ou, por outras palavras, a característica da criminalidade, foi meramente exemplificativa (isto é, poderias ter encontrado outra qualquer característica nefasta ou negativa) ou querias mesmo referir-te à criminalidade?
Ainda outro exemplo, desta vez pela negativa: se fosses anti-clero, era-lo porque consideravas os sacerdotes mais criminosos do que os mecânicos ou os engenheiros? Ou seria porque demonstravam outro tipo de característica?
Viste onde queria chegar?
AH, finalmente os efeitos dos vapores já se dissiparam…
Muito bem, Manel, já entendi a tua questão. De facto, a imagem da criminalidade não é meramente exemplificativa. Repara, eu não tenho por hábito “avaliar” os outros por questões de moralidade, por isso as questões de legalidade são as que me servem normalmente de bitola.
Em relação à tua segunda questão não te posso responder. Perguntas-me por que é que eu seria uma coisa que não sou! Não te consigo responder a uma questão colocada nesses termos…
A segunda questão era só para ver se chegavas lá mais depressa, não fosses ter ficado afectado pelos meus “vapores” licorosos… Normalmente fazendo as perguntas ao contrário, os mais lentos chegam lá mais depressa.
Chegados a este ponto, e no que às questões da legalidade concerne, posso desde já dizer-te que discordo parcialmente da estrela polar pela qual te orientas na avaliação dos outros. No entanto perderia aqui imenso tempo precioso ao desenvolver uma série de raciocínios que, talvez, quiçá, pudessem apurar mais um pouco os critérios que segues. Não que sejam errados, não digo isso, mas envoltos de umá espécie de obscuridade. Como sei que és uma pessoa dinâmica (ora bolas, até tu, numa perspectiva Darwinista, estás sujeito à evolução)talvez ficasses enriquecido ao ponto de ver a realidade de outra forma.
A seu tempo, e talvez numa conversa de café, eu te explique o que quero dizer. Ou não!
Abraço!
É só promessas…
Assino por baixo o seu artigo sr. Helder. É para mim um prazer e um grande privilégio partilhar ideias com pessoas que pensam como eu. Ser-se religioso ou duma qualquer religião, é uma atitude banal e fácil. É muito mais complexo e difícil ser-se ateu. Tudo por causa da morte. É extremamente difícil para o comum dos mortais aceitar a morte e que tudo acaba quando ela vem. É melhor pensar que um deus qualquer o salvará logo em seguida. É aí que funciona o filão das religiões. É que assim, mesmo morrendo, prolongam-se na vida eterna, num qualquer paraíso, oferecido por uma qualquer seita ou religião, a troco, claro de bom dinheiro. Por mais que tente explicar aos que me rodeiam que isso de facto é lindo, mas que é ficção, eles nem sequer se questionam e olham para mim como um ET. A mudança, em situações como esta é extremamente difícil. Daí que sejamos tão poucos os assumidamente ateus.
Claro que acredito em absoluto que não passamos dali. Mas as pessoas são crentes numa qualquer divindade, porque pensam que assim, não morrem, ou melhor,
viverão eternamente.
Bom, somos seres humanos muito frágeis e sempre com receio do que o futuro nos reserva. Quando esse futuro, que para alguns se chama além se aproxima, alguns ficam ainda mais fragilizados e vulneráveis, acabando por aderir a ideias que em situações normais rejeitariam.
Continuem a debater e a divulgar ideias que vão acabando com o obscurantismo, uma vez que acabar de vez é muito difícil ou mesmo impossível.
É um grande prazer vir a este site.
Cumprimentos
J.F.Ribeiro
De onde vem o amor na sua opinião? Não digo apenas o amor humano, mas o amor verificado em outras espécies vivas. De onde vem o amor dos chimpanzés, por exemplo?
E finalmente, qual seria o sentido desse amor, se Deus não existisse?
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Caro Hélder,
Sou, desde os meus 14 anos, aquilo que se pode designar como DEÍSTA.
Apesar disso, sinto-me muito mais perto dos ateus que dos teístas, em todos os aspectos.
Um dia, quando quiser, puder e tiver paciência gostaria de ouvir a sua opinião, como ateu, sobre o deísmo.
Até lá, cumprimentos e Felizes Festas (não esquecer que Natal é sinónimo de festas do solstício de Inverno e também ‚se assim o entendermos, sinónimo de solidariedade humana.
Boa argumentação, simples e concisa. Tomara que muitos crentes conseguissem perceber que liberdade religiosa também implica o direito a não ter fé, e deixassem de rotular os ateus como satânicos ou anti-religiosos.
Concordo e identifico-me com o teu texto!
“AMA ATEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO”