Aborto (III)
Portugal, Sociedade 24 Novembro, 2006Esta é a terceira parte de uma série de textos dedicados ao aborto . Ver: Aborto (I), Aborto (II)
Gosto do Que Treta!. Ludwig Krippahl, o seu autor, é, também, um ateu convicto e, curiosamente, também defende o “NÃO” na resposta ao referendo que se avizinha sobre a “Interrupção” Voluntária da Gravidez. Coloco “Interrupção” entre aspas porque me parece que começam logo aqui, na escolha do termo “Interrupção”, os problemas da questão colocada em referendo. Segundo o dicionário Priberam online, “Interrupção” significa:
- do Lat. interruptione
s. f.,
suspensão;
acto ou efeito de interromper;
intermissão;
reticência.
- Ora, isto significa, no meu entender, que a gravidez poderia ser retomada o que, obviamente, não é o caso!
- Voltando ao Que Treta!, o Ludwig consultou os dados da O.M.S. (Organização Mundial de Saúde) - ver post -e chegou às seguintes conclusões estatísticas:
Hoje tive tempo para consultar os dados da O.M.S. (aqui). Em 2003 morreram em Portugal 52992 mulheres. Dessas, por exemplo, 1556 de cancro da mama; 418 de acidentes automóveis; 411 de quedas; 267 de suicídio; 38 por homicídio e outros crimes violentos. O número total de mulheres que morreram em Portugal em 2003 por complicações relacionadas com gravidez, parto, ou pós-parto foi oito.
Reparem que oito é o numero total de todas as mortes relacionadas com gravidez e não exclusivamente relacionadas com o acto de abortar. É óbvio que enquanto este número for maior que zero ainda há muito por fazer. Uma morte são mortes a mais sob qualquer prisma. Mas, então, que dizer das 418 mulheres que são vitimas de acidentes de automóveis, das 267 que se suicidam e das 38 vitimas de homicídio? Não serão estas realidades bem mais urgentes de abordar?
Ludwig vai mais longe e analisa, ainda, os dados da organização Women on Waves e de uma resolução do P.C.P. sobre aborto medicalizado.
O que me parece importante ler destas estatisticas é que, por muito grave que seja, o aborto está longe de ser uma das principais causas de morte em Portugal, por muito que os propagandistas do “SIM” se esforcem.
Quero, no entanto, deixar bem claro que acredito convictamente que ninguém é a favor do aborto, nem mesmo os defensores do “SIM”. As marcas que ficarão gravadas na maioria das mulheres pelo simples facto de terem que tomar uma decisão dessas, mesmo antes do acto, serão, sem dúvida, enormes. No entanto, não me parece que dar ao aborto um estatuto contraceptivo seja a solução. Afinal, independentemente do enquadramento jurídico em que se processar o aborto as marcas ficarão sempre lá, quer seja legal ou não.
24 Novembro, 2006 às 12:49
Parabéns pelo blog.
Contudo há alguns pontos que cumpre esclarecer…
Achas mesmo que as mortes em clínicas clandestinas entram para essa estatística?!?!?!
Quanto ao teu não sobre o aborto, tens o meu respeito… mas não a minha concordância.
O direito à saúde deve ser igual para todos, ou seja, deve ser acessível a todos… Proibir o aborto é dizer aos que podem -”Vão abortar ao estrangeiro” e dizer aos que não podem arrisquem uma clínica privada…
A questão mais lateral e menos pertinente mas que ainda assim merece um comentário é sobre a língua portuguesa.
Interrupção significa voltar ao zero e não suspender…
Pelo que o termo é correcto. Esse dicionário Priberam online…
Suspender é (desculpa o anglicismo fazer “pause” sem prejuízo do posterior novo “pause” para continuar do ponto onde, precisamente, se suspendeu. Suspender vem logicamente de suspensão que também significa algo que fica suspenso, “no ar”, até voltar a sua marcha ou desenvolvimento-se (há a ideia da ficção científica de suspensão de vida no sentido de que a vida fica suspensa até que os cientistas descubram uma cura que possa ajudar essa vida, também para poupar a vida das pessoas durante uma grande viajem no espaço.
Interromper é voltar ao zero. Não estamos a falar do coloquial interromper uma conversa (que, ainda assim, em muitos casos, significa voltar a zero na conversa… precisamente porque foi interrompida)
PS: A esmagadora maioria daquelas palavras que consideramos serem sinónimos não o são na realidade, muitas daas vezes são palavras diferentes com siginifcados diferentes embora muito semelhantes.
Suspensão e Interrupção são definitivamente diferentes.
24 Novembro, 2006 às 15:15
Apesar de o termo interrupção significar, verdadeiramente, uma “suspensão” e não uma cessação (associada, claro está a extinção), como o caríssimo José Sócrates aqui afirma, tenho que concordar com grande parte das afirmações por ele proferidas. Mas parece-me que o cerne da questão não se encontra na terminologia ou interpretação do conceito da palavra.
De facto, amigo Helder, os dados estatísticos oficiais (seja da O.M.S, ou de outra organização qualquer) são isso mesmo: os dados oficiais. O que significa, desde já, que tudo o que estiver omisso e não for declarado - repare-se que os abortos clandestinos traduzem-se neste facto - não entra na contagem estatística realizada. O mesmo será dizer que grande parte, senão a maioria, dos abortos que são realizados em Portugal são camuflados. Porquê? Porque o aborto é crime, e as mulheres não querem ser penalizadas pela prática de factos criminosos que, apesar de tudo, entendem ser a melhor solução.
Isto significa que existe uma tendência para um movimento de descriminalização e que, em termos axiológicos, a sociedade “sente” que o bem jurídico “vida intra-uterina” pesa menos na balança valorativa e em termos de censura social do que outros bens jurídicos - tais como a possibilidade (seja qual for a origem da gravidez)de se viver uma vida saudável em termos amplos, isto é, abrangendo tanto a saúde e bem-estar físicos como psicológicos.
Por outro lado, independentemente de gostares ou não do que vou afirmar, acho um pouco infeliz a forma como começaste o post em análise. Passo citar “Ludwig Krippahl, o seu autor, é, também, um ateu convicto e, curiosamente, também defende o “NÃO” na resposta ao referendo que se avizinha sobre a “Interrupção” Voluntária da Gravidez”. Passo a explicar: que raio é que tem a ver o facto de se ser (curiosamente) ateu ou defensor de qualquer tipo de fé com uma decisão que, acima de partidarismos, religões, lobbies ou crenças, terá que ser expressada de acordo com a consciência e convicção de obrigatoriedade de cada um?
Ok, até poderemos eventualmente dizer que a religião “molda” a valoração das pessoas, mas não de todas, nem sequer da maioria. Conheço inúmeros católicos que estão a favor da “extinção” voluntária da gravidez e que são católicos convictos. Também já sei que terás a criticar o facto de se ser um católico convicto e não defender as orientações que a sua “Igreja” propõe. Mas é a realidade! As pessoas podem ser católicas e não concordar com o todo da doutrina cristã.
Tal como o inverso também poderá ser verdadeiro.
A lógica, para quem a possui e lhe dá valor, existe independentemente da religião assumida.
Grande para ti e para o pessoal do Palpita-me!
PS: não sou católico. Nem hindu.
PS 2: não concordo com o chamado aborto contraceptivo.
24 Novembro, 2006 às 21:12
Obrigado pelos vossos comentários.
Em relação ao valor das estatísticas, saliento que foram dados como exemplo, para além da OMS, duas referências que espelham a realidade não oficial e, mesmo assim, estamos longe de poder considerar as mortes em consequência do aborto como uma das principais causas de morte feminina em Portugal. O post no Que Treta! explica isso de forma clara.
Quanto ao direito à saúde, concordo que ele deve ser igual para todos; não concordo, contudo, que se considerem todas as razões para abortar como questões de saúde de facto.
Em relação à questão da interpretação linguística da expressão escolhida - Interrupção - fui consultar outros dicionários e reafirmo o que escrevi no post, tendo em consideração os resultados de diversos dicionários online.
Manel, em relação ao inicio do meu post, penso que não deves ter lido os anteriores em relação ao aborto. Neles, faço referência ao facto de achar que alguns defensores do “SIM” não contribuem em nada para a sua causa tentando estabelecer um paralelismo entre a Igreja e o “NÃO”, como se apenas a religião servisse de factor de decisão no referendo. Isto, exactamente pelas razões que advogas, por isso, estamos completamente de acordo e só o facto de teres lido o início do post fora do contexto te pode ter conduzido a pensar o contrário.
Já em relação ao teu parágrafo sobre a lógica sou obrigado a lançar uma provocação. A religião é ausente de lógica. A religião é, aliás, a única área onde a falta de lógica não é censurável e, muito pelo contrário, é até protegida. É exactamente aí que reside o perigo.
Manel, no teu post scriptum dizes que não és favorável ao aborto contraceptivo. Nota que a forma da pergunta a referendo permite que, caso ganhe o “SIM”, a nova lei o venha a permitir.
De qualquer forma, muito obrigado a ambos pelos vossos coerentes comentários. Vou colocar um link no topo deste post para os dois posts anteriores referentes ao aborto para evitar mais possíveis leituras desenquadradas.
Um grande abraço.
9 Dezembro, 2008 às 17:30
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